"Se tem alguma coisa que Harry Potter me ensinou foi que ninguém deve viver dentro de um armário."

Desde pequena eu sempre soube. Era algo que existia dentro de mim. Mas como eu era criança não dava muita importância pra isso. Isso começou a tomar conta de todos os meus pensamentos e idéias quando eu tinha doze anos e estava com minhas amigas numa dessas noites que a gente ficava mais feliz só por estar na rua tarde, elas estavam falando de meninos, a idade de amores platônicos havia chegado. Eis que ouço a pergunta: "Mariana, você nunca fala de ninguém, você gosta de meninos?" Não lembro o que respondi mas lembro que a pergunta ficou na minha cabeça por um bom tempo. Achava um ou outro menino bonitinho mas nada mais que isso. Eu sabia que não gostava. Mas por ser muito nova e cristã protestante eu não entendi muito bem ao certo, e deixei isso quieto dentro de mim. Achava que se eu namorasse algum menino isso ia passar e deu. Não passou.

Hoje, sei exatamente que confundi os sentimentos, há quem diga que namorar melhor amigo sempre dá em coisa ruim, no meu caso me fez descobrir quem eu era de verdade. Não vou dizer que não sofri. Sofri muito. Eu gostava muito da amizade dele, era nova, tinha a necessidade de esconder quem eu era, acabei confundindo as coisas e por um momento, eu acreditei que realmente gostava dele. O namoro então veio a acabar e finalmente veio o sentimento de liberdade. Eu nunca tinha ficado com uma menina antes, mas eu não precisava pra saber. Eu gostava. Era aquilo que eu era. 

Felizmente, ou não, eu nunca tive problemas para me aceitar. Sabia que aquilo era algo normal e que eu não era a única do mundo com esse sentimento. Mas haviam pedras no caminho. Religião, família e a sociedade homofóbica. Não mudei minha religião. Aliás não acredito em religião. Ainda acredito em Deus e sempre acreditarei. Não acredito em um Deus tão ruim a ponto de mandar pro inferno pessoas que amam. Eu acredito em um Deus que ama. Eu acredito no amor. Deus nos deixou dez mandamentos e julgar não estar em nenhum deles. Já o amor está em todos eles. Eu acredito no amor. O mundo precisa de amor. Bem, me limito aqui porque não criei este post para fala de religião, mas espero ajudar quem ainda está nessa confusão sobre o amor homo versus religião. 

Eu ainda não entendo muito bem, ser humanos que tiram a vida de outros seres humanos. A vida é tão curta para nos preocuparmos com a vida sexual dos outros. E a vida também curta para nos escondermos por causa de pré-conceitos da sociedade. Existe uma citação que eu gosto muito que é a seguinte "Ame e dê vexame". Eu sou muito instantânea. Faço duas vezes antes de pensar. Há quem diga que isso não é sábio. Mas a vida vale muito mais a pena se arriscando. Vivendo, se entregando. Ciclos se inciam e terminam. É normal entender que eles chegam ao fim, é interessante curtir o fim de cada um e aproveitar os aprendizados que cada um trouxe. Por isso que deixei de esconder o meu verdadeiro eu. A Mariana que gosta de meninas. Mas a Mariana que gosta de meninas continua sendo a mesma Mariana de antes. 

Quando conhecer alguém que ainda está na fase de se aceitar. Não o pressione. Ame. Eu disse que acredito no amor. Se existisse a religião do amor, eu faria parte dela. Demonstre amor. Esse texto está na minha mente há tanto tempo e está sendo um alívio enorme escreve-lo. E eu fico feliz de ter escrito na hora certa. Nem precipitado demais e nem tarde demais. 

Obrigada por ler tudo. Pra muitos, se assumir pode parecer algo bobo, mas quem passa por isso sabe o quão difícil é. E se você já sabe a algum tempo obrigada pelo apoio, foi muito importante para mim <3