10:30


"Nooooossa Mari você mudou muito quando foi pro Sul!" Uma coisa que me deixa irrita é as vezes eu falar "Ah por que você não sai do Rio?" e as respostas são sempre as mesmas: "Deixar o Rio? Nunca!" "Não consigo eu amo aqui!" "Não sairia daqui por nada." "Não me vejo mudando de estado."  E de fato nem é por ser o Rio, mas sim por ser nossa cidade natal. A questão é que ninguém me perguntou se eu queria deixar isso pra trás. Eu só tive que deixar. Só tive que arrumar as malas e vir. Não tive tempo pra me preparar. No mês seguinte eu ia para o avião e ponto. Ia deixar uma vida inteira, tudo o que eu tinha pra trás. "Mudar de cidade não tem nada demais." Tem. E sim vou dar uma de Demi Lovato, o sentimento de deixar tudo pra trás, só quem já passou sabe como é, então não, ninguém sabe pelo o que eu passei nos primeiros dias.
Então, pra você que achou feio eu ter mudado tanto meu jeito de agir quando vim pra cá, é claro que eu ia mudar. Uma coisa é ter que deixar pra lá um ex-namorado que fez mil coisas erradas, aliás, é muito fácil esquecer quando há erros. Mas e quando você é obrigada a desapegar pessoas que te fizeram bem? Sair da escola que começou o ensino médio simplesmente porque é obrigada? Deixar um curso pra trás? Isso mexe com o psicológico. Até da pessoa mais centrada do mundo. Eu diria, hoje, depois de um ano, que foi uma mudança boa. No início foi bem difícil, passar o aniversário sozinha, ir pro terceiro e último ano em uma escola totalmente nova com pessoas que você nunca viu na vida com costumes diferentes dos seus. Isso mexe com a pessoa. Isso gera um amadurecimento.
Quando vim pra São Leopoldo passear outras vezes em outros anos, era uma experiência totalmente diferente. Mas morar me deu certos medos. Mas que, felizmente, foram vencidos ao longo do tempo.
Uma das coisas mais difíceis pra mim no Sul, foi lidar com as pessoas. Meus amigos sempre falavam que eu ia me dar bem e fazer amizade rápido aqui, por eu ser falante até demais. Não foi bem assim...A diferença entre um carioca e um gaúcho é enorme.Cariocas dão dois beijos, gaúchos dão um, vocês não sabem quantas pessoas eu quase beijei nesse tempo, triste .No Rio, as pessoas são acolhedoras, simpáticas, agitadas, comunicativas e por aí vai.... Aqui as pessoas são totalmente reservadas. Até que você pega intimidade, depois isso muda, um pouco, mas muda. E pra mim, que estava acostumada a chegar na escola e falar com todo mundo, foi literalmente um saco lidar com pessoas, aparentemente, monótonas. Mas isso pelo menos passou. As pessoas, literalmente se tornam meio retardadas quando conhecem alguém de outra cidade. "Fala biscoito!" "bixxxcoito" e elas acham isso maravilhoso, super engraçado (beijo Beatriz, que já deve imaginar minha reação pra isso haha). Mas com o tempo fui me adaptando com essas pessoas queridas (nem tanto).
Nunca fui aquele tipo de pessoa que lidava bem com partidas. Sempre ficava mal. Quando cheguei aqui nos primeiros dias, eu passava a maioria das noites chorando. Ir pra um lugar que você não conhece nada, se perde até pra ir pra casa e não conhece ninguém, no início é assustador. Depois, divertido(ou nem tanto, um desses perdidos meu me fizeram ser assaltada, história pra outro parágrafo). Vir pra São Leopoldo, certamente me fez uma pessoa mais madura para lidar com ciclos. Ciclos terminam. Meu ciclo no Rio, terminou (temporariamente?). Mas não significava que as pessoas que eram importantes pra mim deixariam de ser como eu achava que ia acontecer quando eu estava no avião em algum lugar no céu quando vim pra cá. Elas iam sempre estar ali, não fisicamente. Mas iam estar e jamais perderiam a importância pra mim.
Um ano aqui me fez passar por tantas coisas novas e aprender tantas coisas diferentes que não sei se teriam acontecido se eu tivesse continuado na minha cidade. Ainda tenho aversão a São Leopoldo (mas quando falam mal daqui eu defendo sempre).  Mas não trocaria pelas coisas que eu aprendi, amadureci e nem pelas pessoas que conheci. E por todas histórias que eu passei. Todas as vezes que me perdi nessa cidade (mesmo sendo um ovo de tão pequena). Ainda tô meio revoltada mas passou, eu ia para 28 de Setembro, todo o dia a 17h, quem é do Rio sabe do que eu tô falando e o quanto aqueles lados de Vila Isabel, Maracanã e Tijuca é perigoso, e eu sempre de boa, com celular na mão no ponto de ônibus e sobrevivi. Mas Mariana, foi ser assaltada aqui no Sul, life's things.
Só tenho a agradecer a todos que me ajudaram a superar essas coisas nesse um ano e me aguentaram no início da minha vida aqui, sou bem chata quando tô revoltada, as pessoas que eu conheci aqui e por terem me recebido tão bem. Um ano que valeu muito a pena. E que deixou minha vida de cabeça pra baixo da melhor forma possível, obrigada por isso. E um conselho que dou pra quem diz que não sai da cidade natal por nada: façam isso! Tem coisas que acho que a gente só amadurece e entende, saindo da zona de conforto. <3 amo todox

You Might Also Like

0 comments

SUBSCRIBE

Like us on Facebook